01/01/2019

Subindo o rio das Mortes, 160 km de sua boca no Araguaia, chega-se a Santo Antônio. Em suas origens um povoado isolado em terra Xavante, montado numa barranca amarela, dominando o rio, com quase mil habitantes que pouco sabiam do mundo, pois ali não havia nenhum serviço regular de transporte. Este patrimônio foi fundado no ano 1959, sendo os fundadores o senhor José Pereira de Souza, senhor Inácio e Eduvuges (Eduvirges), pais de Zeca Pereira, Pedro Cascavel e Corina, vaqueiros de Zeca Pereira e outros.
Estes funcionários vieram de Luciara, sendo que o senhor Zeca Pereira saiu de seu lugar por motivo da morte de um filho seu.
Então, por informações de mariscadores, ele procurou este rio, trazendo sua esposa, dona Rosa, e aqueles outros homens que também procuravam lugar, pensando em melhora.
No dia 15 de janeiro estes homens chegaram a este lugar. Eles vieram de barco, encontrando muita dificuldade para sair de um lado para o outro.
Eles encostaram o barco em uma barreira e fizeram um porto; Começaram a formar seu trabalho fazendo limpeza na beira do rio e construindo as primeiras casas.
Durante o inverno eles continuaram trazendo mais gente e mantimentos. E continuaram trabalhando para, devagar, construir mais casas e serviços no lugar. Logo que chegou o verão eles começaram a derrubar a mata para botar a suas roças. Fizeram logo quatro tarefas de roça. As primeiras ramas de mandioca vieram de barco: do velho Lió, de Luís Alves e até de Aruanã e Britânia. Uma mandioca por nome Vassourinha veio de Monte Alegre; e o abacaxi roxo também. Da Luciara também veio rama de mandioca.
Havía índios que atacavam os moradores, que, muitas vezes passavam as noites inteiras sem dormir.
Para os moradores ficarem tranquilos, tinham que dar de tudo para os índios.
O senhor Zeca Pereira, que tinha bastante gado, mandou abrir uma estrada de Luciara a Santo Antônio, para poder transportar seu gado.
Depois o senhor Zeca Pereira, pensando em melhores condições para o lugar, junto com seus companheiros, fez o primeiro campo de avião.
Com a contribuição do trabalho e a chegada de mais gente os índios desapareceram.
Em 1960 apareceram neste lugar uns agrimensores medindo a terra; e deixaram um poste no rio São João, que fica distante uns 60 km. Mesmo assim o povo continuou trabalhando firme.
Em 1961 foi criada uma escola paga pelos pais sendo o primeiro professor um senhor de Atanásio. Trabalhava numa casa construída pelo povo.
Neste mesmo ano, andavam os padres fazendo desobriga. Chegando a este lugar celebravam missa na casinha da escola, que ficava ao lado da casa de Zeca Pereira, na beira do rio.
Em 1962 foi a primeira vez que este povoado participou das eleições, sendo candidato a prefeito o senhor Valdon Varjão. A prefeitura era de Barra do Garças.
Logo depois da eleição, com a colaboração dos senhores Aderson e Guilherme, a escola começou a ser paga pela prefeitura de Barra do Garças. Até essa época, os moradores trabalhavam despreocupados, sem aperreios de donos de terra, pois eles mesmos eram os donos desta terra. O que mais aperreava eram as doenças, porque não tinham condições de tratamento neste lugar. Naquele tempo tudo era difícil, pois nem em São Félix tinha médico.
A doença que mais prejudicava era a febre da maleita. Em 1965 morreu muita gente de febre.
Em 1966 o senhor Zeca Pereira foi embora. O povo já tinha aumentado muito. Tudo muito animado. As crianças estudando.
Mais duas estradas foram abertas; uma rumo dos rios São João, Mureré, Correntinho, numa extensão de 60 km. E outra ligando Santo Antônio com o patrimônio de Serra Nova, 72 km.
Com a saída de Zeca Pereira, o povo continuou lutando pela melhoria deste lugar. Em 1968, foi aprovado um projeto de lei, criando o distrito de Santo Antônio. Embora aprovado pela Assembléia, Legislativa, o projeto não foi assinado pelo governador Pedro Pedrossian por razões políticas, e o distrito foi esquecido. Mesmo esquecido o distrito o povo não desanimou.
Em 1972 começou o conflito de terra neste lugar. Chegaram uns homens dizendo que esta terra eram deles. O povo não se amedrontou com isso. Mas, pela segunda vez vieram, já com advogado, procurando questão, trazendo o mapa, dizendo que esta terra era toda deles. Eles eram onze herdeiros, mas o documento que eles mostravam ao povo foi só este mapa. Eles foram embora e deixaram uma pessoa do lugar fazendo pressão ao povo, dizendo que, a outra vez que eles viessem iam pôr todo mundo para fora daqui. Então este foi o motivo de muita gente vender as posses para eles.
Com a compra dessas posses dos moradores, começou logo a fazenda, colocando gerente para perseguir o povo. Desde esse tempo que a fazenda começou a perseguir o povo: polícia, queima de roça, cerca nas aguadas de o gado beber, intimações para comparecer na polícia de Barra do Garças (800 km de distância), pistoleiros e jagunçada atirando no meio das ruas e nas portas das casas, trincheira no meio da estrada proibindo o povo passar para as suas roças, ameaças de todo tipo, oferta de indenização muito baixa. Em 1975 o velho Décio Felipe, gerente, juntou 6 jagunços e fizeram uma trincheira no meio de uma estrada passageira. Ficaram lá seis dias, esperando que fosse algúem para eles matarem, mas o povo não tinha mesmo este cálculo de briga e ningúem foi lá. Eles ficaram até enjoar.
Muitas viagens perdidas foram feitas, procurando que as autoridades reconhecessem nossos direitos: São Félix, Barra do Garças, Cuiabá, Brasília. Promessas tivemos muitas. Força e apoio só mesmo quem deu foi nosso trabalho e coragem de continuar na terra.
Muitos de nossos companheiros não suportaram isso e acabaram largando tudo e saindo para outros lugares. Muitos deles ainda hoje tombando de um lugar para outro, sem achar um lugar certo para viver e criar seus filhos.
De posse das benfeitorias abandonadas por nossos companheiros, a fazenda quase nada fez de serviço, a não ser algumas cercas e delimitações e algumas derrubadas. Ela veio se servindo sempre de nossos serviços: campo de avião, estradas, casas. A própria casa da sede era uma casa de posseiro. Isso foi de 1973 até 1977.
Em maio de 1977 a fazenda vendo que uma metade dos posseiros não saía mesmo, inventou uma bondade: doar uma área para o patrimônio cercada de arame. Quinhentos hectares.
Em agosto de 1977 o grupo Abdalla-Zarzur, dono da fazenda, vendo que o povo não saía mesmo por conversa deles, nem da polícia que eles traziam, estudaram outro meio: denunciaram os posseiros do patrimônio e da vizinhança como "invasores de terra" e, dizendo que este povo era um povo sem profissão.
Como este povo pode ser chamado de "invasor" e "sem profissão" se quando a fazenda chegou, eles já moravam aqui e todos trabalhavam em suas posses para sustentar seus filhos? Então, quando chegou esta denúncia, os posseiros resolveram apelar para a justiça também, procurando seus direitos. Eles arranjaram uma advogada da Comissão Pastoral da Terra. Com esta advogada, eles foram lutando com fé de ganhar a terra e um pouco de sossego para trabalhar. Parece que o povo se uniu mais e criou mais coragem para enfrentar a luta.
Três anos passaram e o processo correu: muitas viagens a Barra do Garças, muito dinheiro gasto, muito estudo. Para enfrentar a lei, os lavradores se uniam cada vez mais.
Nesse tempo foi fundado o Sindicato de Trabalhadores Rurais de São Félix, com sede em Pontinópolis. Logo foi criada uma delegacia aqui no Santo Antônio, e todos os lavradores se associaram. O SINDICATO deu força para os posseiros.
Daí vieram as sentenças do Juiz: um deles deu sentença contra os posseiros e a favor da fazenda. Outro deu sentença contra a fazenda e a favor dos posseiros.
Até o INCRA já tinha sabido disso e tinha vindo fazer os levantamentos dos posseiros. Quando saíram as sentenças, os companheiros foram para Brasília só para comunicar com o Presidente do INCRA e exigir a REFORMA AGRÁRIA. Isso foi no tempo de botar roça. Estava todo mundo animado, botou roça grande. E o SINDICATO foi agasalhando os companheiros que estavam chegando da Ilha do Bananal, flagelados pela enchente. Isso foi até o final de 1980.
1981 começou com a maior animação: no dia 25 de fevereiro o Presidente da República assinou o decreto da desapropriação da área, reconhecendo que os posseiros estavam com direito.
O velho Décio foi-se embora, e no ano seguinte chegou o INCRA que o Sindicato tinha que vigiar quanto o fazendeiro. Graças ao trabalho incansável de Zé Rodrigues a divisão da terra de uma forma mais ou menos igual aconteceu.
Existe o ditado que "quando a onça morre os cachorros começam a brigar entre si". Tomara que este nobre passado de luta, justiça e terra para todos e para quem trabalha nela sempre exista neste NOVO SANTO ANTONIO.
Santo Antônio do Rio das Mortes era um vilarejo originado dos migrantes vindos para a região do Araguaia em busca de melhores condições de vida, principalmente a partir dos anos 50. Esses migrantes vieram expulsos de suas terras ou marginalizados pela falta de perspectivas. A atividade tradicionalmente realizada era a pequena criação de gado solta nos varjões e pastagens naturais. A atividade realizada em apoio à criação de gado era a roça de toco, com a derrubada e queimada das vegetações nativas para a implantação da roça de subsistência.
Houve nos anos 70, conflitos de terras entre os posseiros e fazendeiro que alegavam ter comprado a terra na qual esses posseiros viviam. Destes conflitos, foram realizados dois projetos de assentamentos (PA) principalmente de regularização fundiária no município de Novo Santo Antônio: PA Santo Antônio da Mata Azul (onde encontra-se a sede do município) e PA Macife (com uma pequena área apenas dentro do município).
O município foi criado através da Lei Estadual nº 7.173, de 29 de setembro de 1999, de autoria do deputado Humberto Bosaipo.
A luta pela emancipação de Novo Santo Antônio contou com a participação de toda comunidade, que dispuseram de documentos e articulações que relatam o drama vivido sobre possibilidade de "não emancipação" lugar.
A consulta plebiscitária realizada em 26 de agosto de 1999, resultou em uníssono "sim" dado pela comunidade e homologado pelo Tribunal Regional Eleitoral de MT, através do Presidente da instituição Desembargador Orlando de Almeida Perri, via ofício nº 242/99.
Pouco antes da criação do município, a comunidade se uniu e enviou à Assembléia Legislativa de Mato Grosso um documento de repúdio, uma contestação ante a possibilidade do então distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes não ser emancipado, e tornar-se distrito município de Serra Nova Dourada (recém-emancipado).
Em dado momento a correspondência tinha o ácido teor: "...pode levar à presença do nosso deputado Humberto Bosaipo este abaixo assinado, pois ele como nosso representante por esta região, não pode aceitar tal desrespeito". O documento estava assinado por Valdivino Ribeiro da Silva, Getúlio Pereira da Silva, Osvaldo Borges Rodrigues, Isaías Nogueira Amorim, Agenor R. de Araújo e outros.
O primeiro prefeito eleito do município foi o sr. João de Souza Luz, no pleito de 3 de outubro de 2000.
Em novembro de 2009, a cidade foi a última cidade do Brasil a receber uma agência do Bradesco. Um comercial foi feito e exibido em rede nacional, mostrando imagens de Novo Santo Antônio